segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A síntese noticiosa e outros formatos no radiojornalismo



A síntese noticiosa (também chamada de boletim noticioso) é um breve informativo que transmite um resumo das principais notícias do dia, em que os fatos são hierarquizados em ordem crescente de importância.Baseada no modelo norte-americano de radiojornalismo, a síntese tem como principais características o imediatismo, a linguagem simples, direta, com frases curtas, concisa, com a finalidade de informar e a locução vibrante.O tempo de cada síntese é originalmente de três a cinco minutos, sendo veiculado a cada 30 minutos ou uma hora, mas algumas emissoras fazem de 10 minutos, no inicio ou final de cada turno do dia. A edição da síntese tem por base a aproximação das notícias pela similaridade dos assuntos.
O maior exemplo de boletim no Brasil de acordo com este estilo foi o Repórter Esso, no ar a partir 1941 e referência na área até os dias atuais. Suas normas de edição, por exemplo, definidas pela agência de publicidade McCann-Erickson, são validas até hoje: “O principal item da edição é colocado como a notícia final. O segundo fato mais importantes a ser noticiado deve abrir a edição.(...) Não existe, naturalmente, um critério geral e único capaz de definir a importância das notícias. A sensibilidade do redator e o seu bom senso são os seus melhores conselheiros no momento da avaliação. (...)É de boa prática, entretanto, colocar juntas as notícias e informações afins, que não possam ser fundidas num único item. Agrupam-se, por exemplo, as noticias esportivas, eleitorais, informações sobre preços do café e do cacau”.
Seu estilo inovador somado à credibilidade na transmissão das informações deu ao Repórter Esso uma grande dimensão nacional, contribuindo para que o rádio se tornasse o meio de informação preferido e mais confiável entre os brasileiros, sobretudo no período da Segunda Guerra Mundial e na época da campanha “O petróleo é nosso”, fomentada por Getúlio Vargas. Por conta da linguagem estabelecida pelo programa, que permanece quase inalterada até hoje, estudiosos dizem que é possível dividir a era do rádiojornalismo brasileiro em antes e depois do Repórter Esso. As inovações implementadas foram evoluindo, novas técnicas foram incrementadas, e o “estilo Esso” de rádiojornalismo continua em grandes emissoras como as CBN e a Band News.
Além da síntese noticiosa, há inúmeros outros gêneros ou formatos frequentes no radiojornalismo, que são apontados de maneiras distintas pelos teóricos da comunicação. No Brasil, segundo José Marques de Melo, professor e pesquisador da USP e da Universidade Metodista de São Paulo, podemos dividir essas possibilidades do fazer radiojornalístico entre gêneros informativos - registro claro e objetivo dos fatos e acontecimentos, caracterizados pela observação, e gêneros opinativos - emissão de opinião diante das notícias, caracterizados pelo aconselhamento.
Os principais gêneros jornalísticos são a reportagem e a entrevista, por merecerem uma ampla cobertura sobre o fato. A reportagem é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que são percebidas pela instituição jornalística. Também é produzido e transmitido pelo repórter. O locutor faz a chamada da reportagem, podendo interagir com o repórter nas transmissões “ao vivo”. Já a entrevista é um relato que privilegia um ou mais protagonistas do acontecimento, possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade. É produzida pela equipe de reportagem e transmitida tanto pelo repórter como pelo locutor, que interagem com o(s) entrevistado(s) durante a conversa.
Assim como a síntese noticiosa, a nota e a notícia são matérias utilizadas para divulgação de fatos ainda em fase de construção. A nota é o resumo da notícia, corresponde ao relato dos acontecimentos que estão em processo de configuração. É produzida pela equipe de redação e transmitida pelo locutor. Já a notícia é o relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social. Também é produzida pela equipe de redação e transmitida pelo locutor. O boletim do repórter é o relato parcial ou integral dos fatos. É produzido e transmitido pelo repórter. O locutor faz a chamada do boletim, podendo interagir com o repórter nas transmissões “ao vivo”.
O comentário é o gênero mais introduzido no rádio por possuir uma relação direta com a notícia. Regularmente, é publicado logo após um acontecimento e vem junto com a notícia ou reportagem. O artigo se diferenciada do comentário porque é inserido quando o jornalista ou colaborador tem liberdade para expor suas opiniões. Os profissionais tratam os assuntos de forma ampla, sem se prenderem ao tempo. Sendo assim, os fatos do passado e do presente estão sempre interligados.
Já a crônica é conduzida, normalmente, de forma literária pelo autor. Os cronistas, muitas vezes, fantasiam os fatos, transformando os personagens em heróis ou vilões, e as notícias em histórias figurativas e até mitológicas. Também ligada ao universo cultural, a resenha ou crítica é o gênero que analisa, geralmente, os fatos do universo artístico e cultural. Tem também a finalidade de orientar o público na escolha dos produtos culturais em circulação no mercado.
A coluna é uma seção especializada em que o escritor expõe suas ideias e julgamentos de modo livre e pessoal. No colunismo, o estilo do autor é fundamentado na utilização dos diversos gêneros jornalísticos informativos e opinativos. A seção do ouvinte é determinada pela seleção e permissão para opiniões para pessoas de fora da emissora, mas integrantes por serem ouvintes da rádio.
O editorial é o gênero que expressa a opinião da empresa jornalística diante dos fatos de maior repercussão no momento. O profissional responsável por esta seção geralmente interpreta e divulga os pontos de vista da diretoria da empresa.
Podem existir ainda outros programas, determinados pelo tipo de cobertura e produção. O programa de entrevista explora determinado tema por meio do diálogo entre entrevistador(es) e entrevistado(s), como os debates e mesas-redondas; o Especial é um programa que aborda, em profundidade, determinado(s) tema(s). Entre os programas especiais estão os radiodocumentários e as audiobiografias, dentre outros. Os especializados são programas que transmitem informações sobre fatos de um mesmo campo de atividade, em que apenas interessam as notícias referentes àquele setor. Destacam-se aqui os programas esportivos, os policiais e os culturais.
Em seu livro Gêneros radiofônicos, o pesquisador André Barbosa Filho desenvolve as ideias do professor José Marques de Melo, citado anteriormente, e além dos formatos já mencionados destaca a existência desses outros: documentário jornalístico; mesas-redondas ou debates (são espaços de discussão coletiva em que os participantes apresentam ideias diferenciadas entre si); programa policial (tem como objetivo cobrir os acontecimentos e fatos policiais, por meio de reportagens, entrevistas, comentários e notícias);programa esportivo (é a divulgação, cobertura e análise dos eventos esportivos. Veiculado no formato de notícias, comentários, reportagens, entrevistas, mesas-redondas); e divulgação técnico-científica (tem a função de divulgar e, consequentemente, informar a sociedade. sobre o mundo da ciência, com roteiros apropriados e linguagem que seja acessível à maioria da população).

AUTORIA DE GABRIEL DEMASI - aluno do quinto período da Escola de Comunicação da UFRJ.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Lançamento literário aborda temática da violência e do terror



Na obra Terrorismo e mídia, de José Amaral Argolo, temos não somente a apresentação do terrorismo ao longo da história e seus modus operandi, mas sobretudo uma análise do papel da mídia. A partir da retórica da hiperviolência, banaliza-se o mal e se (re)apresentam os fatos, estendendo o alcance de um ataque a bomba nos arrabaldes polares a um evento de pauta mundial.
Como repórter investigativo, Argolo conseguiu se aperfeiçoar na arte de contar bem uma história, de reunir subsídios e caminhar dentre as sombras a fim de garimpar nomes, datas, documentos e quaisquer outras provas. Como exemplo, podemos citar o trabalho desenvolvido por ele sobre a ação do terrorismo político no Brasil, que resultou no best seller “A direita explosiva no Brasil”.
Há legitimidade em ações terroristas? Podem os fins justificar os meios? A violência é uma fala? De quem? Essas e outras questões são tratadas com muita competência por José Argolo. Embora o tema seja pouco palatável aos mais sensíveis, o autor consegue adotar um estilo textual singular, o que facilita a compreensibilidade. A metodologia empregada para a elaboração deste livro, por exemplo, privilegiou o levantamento de dados primários, entrevistas (com fontes ostensivas e off de record) e acesso à material reservado (classificado como sigiloso/secreto pelos sistemas de segurança). Além de tecer conceitos, a obra se apóia numa didática cronologia – da Revolução Francesa, passando pelos atentados perpetrados pelos niilistas no século XIX, às ações de hackers da era digital.  
“Tanto o Jornalismo como a Literatura, a História e a Ciência Política, trabalham com palavras. Essas adquirem importância e são dicionarizadas  definindo sentido e objeto, enquanto outras acabam esquecidas” (ARGOLO, José. Pg. 156). Do mesmo modo, podemos dizer que parte da lógica das ações terroristas reside na (re)tomada do lugar de fala como garantia de verossimilhança, ainda que esta fala seja tinta de sangue e revele o atavismo instintivo e primário da humanidade.
Terrorismo e mídia pode ser encomendado pelo site www.e-papers.com.br.