terça-feira, 17 de agosto de 2010

A mídia e a invenção do cotidiano

Falsas notícias mostram fragilidade
apuração jornalística


Em julho último, a contratação do jogador uruguaio Néstor “Colibiri” Coratella, pelo Villarreal Club de Fútbol, da Espanha, por 3 milhões de euros, junto ao Danubio Fútbol Club, do Uruguai, causou rebuliço, não apenas no mundo esportivo, como também no jornalístico. Tudo porque o craque “Colibri” nunca existiu. O atleta “fantasma” foi criado por internautas que publicaram, em um blog da internet, o anúncio de sua negociação. Para dar maior credibilidade, os inventores de “Colibri” postaram vídeos no YouTube, criaram um perfil no Facebook e ainda um fã clube para o suposto craque. A farsa só foi descoberta quando profissionais do jornal Observa fizeram o dever de casa mais elementar de seu ofício: apurar. Ao buscar informações sobre o atleta com seu suposto clube de origem, os jornalistas foram informados pelos cartolas de que se tratava de uma “brincadeira”.


Para Gabriel Collares, professor adjunto da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, o caso é um exemplo do mau exercício da profissão. “É um jornalismo mal praticado e que acontece pelos imperativos de produção e consumo imediatos, pela fragilização das relações trabalhistas, pelo maxi-aproveitamento do profissional de imprensa que, por sua vez, acaba priorizando a quantidade à qualidade noticiosa”, analisa.

De acordo com o docente, os próprios leitores devem exercer a função de fiscalizar o que é publicado na imprensa. “A sociedade deve fazer um mea-culpa também. Questionar sempre, ler com atenção o que é publicado, ter senso crítico, procurar outras fontes para comparação”, alerta o professor. O docente afirma que a credibilidade dos veículos está diretamente relacionada à marca institucional. “Se você perde credibilidade, além de associar um ou mais fatos negativos à marca, os leitores podem migrar para outra mídia mais confiável, assim como os anunciantes”, observa. O professor acredita que as falsas notícias sistematicamente repetidas acabam se transformando em verdades. “Se todos falam ao mesmo tempo, numa polifonia delirante, quem avalia a informação?”, indaga.

O documentário "Abraço Corporativo", do diretor Ricardo Kauffman, também critica a fragilidade da imprensa, o risco de manipulação da informação e de como a mídia destaca pautas sem importância. O filme mostra a saga de Ary Itnem, porta-voz da Confraria Britânica do Abraço Corporativo (CBAC), que sai pela Avenida Paulista, em São Paulo, com um cartaz escrito "Dá um abraço?" e o endereço eletrônico da suposta organização. A trajetória dele chega ao YouTube – recebe cerca de 600 mil visualizações – a história é vendida a sites, jornais e revistas, até que a mídia nacional começa a entrevistar o suposto consultor. Três anos depois, a descoberta: a CBAC não existe.


“O filme é interessante porque mostra que nada mudou no que se refere à qualidade da apuração jornalística. Para preencher espaço no jornal, vale publicar releases das assessorias de imprensa sem checar, vale usar apenas fontes oficiais ou um texto que pouco acrescenta à informação que já obtivemos em outras mídias”, analisa o professor da ECO-UFRJ, para quem as redações nem sempre estão atentas aos detalhes que podem modificar o sentido de uma notícia. “Esta prática é extremamente perniciosa. Jornalismo não é isso”, afirma Gabriel Collares.

Abraço Corporativo
O docente questiona ainda aqueles “que pensavam que as novas tecnologias, por si só, poderiam significar mais qualidade”. Segundo Collares, “agora eles percebem que não é bem assim. Precisamos, de fato, de um novo jornalismo”. Para o professor da ECO-UFRJ, “os mídia livristas confundem liberdade de expressão com exercício profissional do jornalismo, atuando na linha de frente, pautando, apurando e redigindo. Em espaços noticiosos bem definidos, a contribuição é bem vinda, mas cada ‘macaco no seu galho’”, conclui Gabriel Collares.
Assista ao curta Abraço Corporativo em: http://www.youtube.com/watch?v=Q5EwRuglalQ


(Entrevista concedida ao jornal Olhar Virtual, edição 307, de 10/08/2010. Reportagem de Luiza Ramos.)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Dunga e a marca "Brasil" em cheque

Após o segundo jogo do Brasil na Copa do Mundo na África do Sul, o técnico da seleção brasileira, Dunga, dirigiu ofensas ao árbitro da partida, o francês Stéphane Lannoy, e ao principal jogador da seleção adversária, o marfinense Didier Drogba. Além deles, Alex Escobar, jornalista da Rede Globo, também foi alvo de palavras ofensivas, dessa vez sussurradas, após breve interrupção na entrevista coletiva.


A Rede Globo é uma das principais “parceiras” da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), já que investe milhões de reais nos direitos de transmissão de jogos da seleção e dos campeonatos organizados pela entidade esportiva. Ao ofender um profissional de uma empresa que tem laços tão fortes com seus “patrões”, Dunga corre o risco de estremecer as relações, tanto entre a CBF e a Globo, quanto sua possível permanência no cargo após a Copa.

Para Gabriel Collares, professor da Escola de Comunicação (ECO), o técnico deveria passar por um treinamento para saber como se portar diante da mídia. “Há jornalistas que pegam no pé e querem gerar notícia a todo custo, mas o técnico, depois de um media training (como é denominada a técnica), saberia como agir”, afirma Collares.

O professor, que ministra a disciplina Assessoria de Imprensa para o curso de Jornalismo, acredita que a reação de Dunga vai além de uma atitude individual: “O técnico deveria ser repreendido, pois está ali representando o Brasil. Respostas rudes, palavrões e indelicadezas mancham a reputação da seleção e do país”, declara, lembrando a responsabilidade de Dunga e de toda a seleção. “O futebol vai além de mero esporte. É visto como representação da cultura brasileira e, portanto, identitária do Brasil para o mundo”, complementa.

Exclusividade e interesses comerciais

Diferentemente de outras copas recentes, a TV Globo não tem acesso exclusivo aos jogadores em determinadas ocasiões, como dentro do ônibus da delegação ou durante as folgas. Todos os integrantes estão autorizados por Dunga para falar com a imprensa apenas em entrevistas coletivas. “A exclusividade é perniciosa. O Dunga fez bem nessa situação específica, mas o problema foi a maneira como a coisa foi conduzida. Falta um plano de comunicação para a CBF”, analisa Collares.

O entrevistado lembra que a credibilidade é fundamental para a imprensa, logo, a empresa de jornalismo deve avaliar se é vantajoso perder autonomia para se ver à mercê dos interesses publicitários. “O escândalo, quando isso viesse à tona, abalaria a marca institucional. Vale a pena arriscar destruir a reputação em nome de um contrato com cifras astronômicas?”, indaga.

A função das assessorias de imprensa

Tratando o conflito como um exemplo para o relacionamento entre empresas, pode-se levantar a questão do comprometimento de uma organização de mídia com parceiros comerciais. “Há empresas que chegam ao ponto de oferecer um pacote de polpudas verbas publicitárias em troca de matérias positivas”, revela Collares.

Ainda segundo o professor da ECO-UFRJ, as assessorias de imprensa devem fazer “o meio de campo” entre a imprensa e as organizações. “É uma relação delicada, mas a grande maioria das assessorias atua como mediadora, promovendo a instituição com pautas que interessam ao nicho de mercado daquela empresa jornalística”, afirma o professor.

As assessorias de imprensa, segundo Collares, “devem desenvolver suas ações tendo a ética, a transparência e o sentido do jornalismo como serviço de utilidade pública como foco”, conclui.

Publicado no Olhar Virtual (http://www.olharvirtual.ufrj.br/), edição 301 de 30 de junho de 2010. Reportagem de Bruno Gouveia Motta.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

OS NOVOS JORNAIS POPULARES POR TRÁS DAS CAPAS

    
     Os jornais populares “Meia-Hora de Notícias” e “Expresso da Informação” são grandes destaques nas bancas cariocas. Eles vendem bem devido ao preço mais barato em relação aos demais impressos, entre outros fatores. No entanto, o que mais se destaca nestes jornais são suas manchetes, que muitas vezes impressionam pela audácia ou pelo mau gosto.


     A partir da análise de sete edições de cada um destes jornais o aluno da ECO/UFRJ Pedro de Figueiredo, orientado pela Professora Dra. Cristina Rego Monteiro da Luz, identificou nos textos das editorias que publicam informações das áreas de saúde, tecnologia e empregos um conteúdo extremamente didático, que foge das gírias, figuras de linguagem e ironias da capa estereotipada. Estas seções, de frequência diária no “Meia Hora”, e alternada durante a semana no “Expresso”, trazem informações precisas e de alta qualidade para o público-leitor, especialmente das classes C e D. A abordagem é muito diferente do sensacionalismo presente nas manchetes de primeira página. O conteúdo destas editorias é bastante interessante. Enquanto em “Empregos” são valorizadas as mais diversas oportunidades de trabalho, opções de concurso e formas de qualificação profissional, “Saúde” apresenta informações sobre campanhas de vacinação, dicas de exercícios físicos para uma vida saudável, formas de prevenção e tratamento de doenças. Já “Tecnologia” ensina o leitor a utilizar ferramentas digitais, desde o twitter até editores de texto e de imagem, como o Photoshop.

     Mais do que o conteúdo, a linguagem utilizada nas reportagens e notas diferencia-se daquela usada nas chamadas de capa - é bastante simples, porém formal e está de acordo com a norma culta. Não foram encontradas gírias nem trocadilhos e a forma de abordagem é bastante didática.

     Nas editorias de polícia, geral e esportes, a linguagem das matérias também surpreende. Mesmo nas reportagens que recebem manchetes irônicas e cheias de trocadilhos pouquíssimas palavras em desacordo com a nova culta foram encontradas no corpo da matéria.

     Esta análise sugere que o conservadorismo dos jornais tradicionais se repete com bastante frequência nos jornais populares, especialmente naquelas editorias que lidam com prestação de serviço ao leitor, como saúde, tecnologia e empregos. As manchetes sensacionalistas, muitas vezes retomadas apenas nos títulos das matérias, podem ser entendidas como um forte apelo para a venda do jornal, por instigar às pessoas a serem atraídas pelo curioso, pelo diferente. Mas a manutenção do conservadorismo nas editorias de serviços destes noticiários, de uma maneira geral, pode refletir a linguagem do âmbito institucional a que pertencem, já que integram grandes empresas de comunicação.

     Desta forma, estes novos jornais populares são ambíguos: atraem aqueles que buscam uma leitura rápida com alguma qualidade por um preço baixo e garantem a sobrevida do jornal em um momento que as classes A e B têm cada vez mais trocado o impresso pela informação rápida e de fácil acesso da internet.

Autoria de Pedro de Figueiredo - graduando ECO/UFRJ

quarta-feira, 9 de junho de 2010

“Quality papers” x Jornais populares: a mudança do perfil mercadológico



O “Super Notícia”, de Belo Horizonte, e o “Extra”, do Rio de Janeiro, são os jornais mais vendidos em bancas no Brasil, segundo dados do relatório de Março do Instituto Verificador de Circulação (IVC). A notícia mostra uma queda na venda tradicional de periódicos como a “Folha de S. Paulo” e “O Globo”. O relatório aponta ainda que, das dez publicações mais vendidas do país, seis são populares.
Segundo Gabriel Collares, professor da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, esses jornais, na verdade, não podem ser definidos como populares, mas sim como popularescos. “Os jornais populares deveriam tratar de assuntos do cotidiano e que vão interessar às classes populares, por exemplo, com uma forte editoria em Cidade, Serviços e Utilidade Pública”, analisa. Segundo Collares, os jornais popularescos, no entanto, abusam da extrapolação e do sensacionalismo, além de terem uma credibilidade discutível.
A influência e circulação destes jornais é ainda maior quando se analisa a quantidade de leitores por exemplar, afirma o professor. “Sabe-se que os jornais popularescos são lidos por quatro a cinco pessoas cada exemplar, em média, enquanto que os jornais tradicionais são lidos por, no máximo, duas pessoas. Então, se você for projetar isso, o Extra, que tem tiragem média de 300 mil, pode ser lido por até 1,5 milhão de pessoas”, comenta.
A explicação para o fenômeno ainda é uma incógnita. “Pode ser econômica, já que hoje em dia o poder aquisitivo das classes C e D aumentou muito, ou também, a uma estratégia de marketing. Não se sabe”, sugere Collares. Mas a mudança no perfil mercadológico dos chamados “quality papers”, segundo o professor, é uma realidade. “Não houve uma migração dos leitores dos jornais tradicionais para os popularescos. O que ocorreu é que os leitores desses jornais encontraram novas mídias para se informar, como a TV fechada e a internet, por exemplo”, explica.


Novo significado
Encontrar um novo significado para os jornais impressos é o desafio dos periódicos “tradicionais”, na busca por uma nova gama de leitores, acredita Collares. “A internet é rápida e dá o ‘furo’, mas também é muito superficial. O jornal impresso poderia entrar aí, apresentando reportagens mais aprofundadas, mais bem elaboradas, perfis, entrevistas etc.”, opina.
Para o docente, os jornais populares devem prezar a credibilidade, o serviço aos leitores e não o sensacionalismo. “Mas isso vêm como uma mudança em toda a sociedade, sejam os profissionais de jornalismo, as grandes empresas de comunicação e uma população mais participativa, ativa e crítica em relação ao conteúdo do jornal”, analisa. Na opinião dele, o importante é uma diversidade de opiniões e informação, mas cada veículo deve deixar clara a própria identidade. “Sem a suposta neutralidade, que não existe”, conclui.


Texto de Carolina Mazzi. Fonte direta: Prof. Gabriel Collares Barbosa - ECO/UFRJ. Publicado no olharvirtual de 9 de junho de 2010. Crédito da ilustração de Caio Monteiro.

Vítimas da violência têm tratamento desigual na imprensa



Depois de cinco dias de movimentação, chegou ao fim o julgamento do caso Isabela Nardoni, assunto principal em quase todos os meios de comunicação do país. Na última semana, diversos jornalistas se aglomeraram em frente ao Fórum de Santana, na capital paulista, onde Alexandre Nardoni e sua mulher, Anna Carolina Jatobá, foram julgados pela morte de Isabela Nardoni, de 5 anos, ocorrida no dia 29 de março de 2008.
Assim que o juiz proferiu a sentença - que os condenou, respectivamente, a 31 e 26 anos de prisão - fogos de artifício e gritos em comemoração foram ouvidos. Veículos de comunicação acompanharam o caso desde os primeiros desdobramentos do caso até o resultado do julgamento. Entrevistas com parentes, amigos, imagens do local e fotos da menina com a mãe ilustraram grande parte das matérias publicadas.
A natureza do crime, que coloca em xeque uma norma padrão da sociedade – um pai é incapaz de matar a própria filha – foi uma das razões, segundo Gabriel Collares, professor da Escola de Comunicação (ECO-UFRJ), para a grande repercussão do caso, mas não a única. “Crimes hediondos e de violência doméstica acontecem todos os dias e não são noticiados”, afirma o pesquisador, autor da tese “Jornalismo, espetáculo e desvio: violência e criminalidade na imprensa através de estudos de caso”. Isso porque, segundo o docente, “a imprensa no Brasil é aristocrática e reforça o senso comum de que apenas os pobres sentem e cometem violência”.
Para Joaquim Martins, também professor da Escola de Comunicação (ECO-UFRJ), o público leitor de classe média sente empatia com situações, como as do caso Nardoni, pois pode se ver dentro dela. “Chama atenção, porque a pessoa que consome aquele tipo de mídia pensa: poderia ser meu irmão, meu filho, meu pai”, analisa. Segundo ele, é clara a distinção que a imprensa faz entre as classes sociais. “Na favela isso acontece sempre, todo dia. Então é uma questão mesmo de manipulação, daquilo que vai vender. É o caráter mercadológico da informação”, afirma.
Os professores concordam que a imprensa cobre os casos policiais de maneira sensacionalista. Para Collares, no entanto, a intenção de “manipular, sentenciar e julgar” determinados acontecimentos não se restringe à cobertura policial. São dois fatores, segundo ele, que levam a esse tipo de cobertura: a mercadológica, para aumentar as vendagens, e a ideológica, reforçando “antigos esteriótipos”.
Assim como Collares, Martins acredita que a imprensa é “imediatista, tendenciosa e sensacionalista”. Ele afirma que, ao descontextualizar e superficializar os casos, os veículos não promovem entendimento e debate acerca da situação, do ambiente e das causas do fenômeno da violência. “A matéria por si só pode levar a uma distorção, pois as pessoas vão julgar os fatos somente com aquelas informações que estão ali, naquele momento”, analisa Martins.
“O problema, principalmente no caso do jornal diário, é que não há tempo nem espaço para um debate. Em 40 páginas, o jornal tem que cobrir todos os assuntos”, afirma Martins. A revista, segundo ele, teria essa função especifica, mas “existem tantos fatos importantes para relatar que seria preciso uma seleção e, assim, seleciona-se aquilo que vende mais, que é do interesse do veículo. E volta-se ao mesmo debate, pois o que vende mais é sempre mais emotivo”.
Já Collares acredita que, pelo fato de o jornal impresso diário ter perdido a capacidade do “furo” (exclusividade da reportagem) para outras mídias, como a internet e a televisão, seria sua função “aprofundar e promover debates”. Os dois concordam, no entanto, que promover tais discussões é um esforço conjunto da população, dos jornalistas e dos próprios jornais. “A pluralidade maior de veículos de comunicação daria outra visão ao leitor, ouvinte, telespectador e, assim, ele poderia formar seu próprio juízo de valor, mas a população tem que sair da inércia e reivindicar um jornalismo melhor”, afirma Collares.
É preciso resgatar a função social do jornalista, acredita Martins. “O jornalismo tem a função de atender a sociedade como um todo, estratificada da forma como ela for”. Para ele, essa manipulação e forma de abordagem da grande imprensa na cobertura de segurança pública acontecem em razão da classe social em que se situam os próprios jornalistas. “É muito difícil você ver alguém da favela que conseguiu fazer jornalismo. Então os jornalistas só escrevem para si mesmo, para sua classe, e não para sociedade como um todo”, analisa.
Instinto humano


Freud, em O mal estar da civilização, explica a necessidade humana instintiva e natural - reprimida pelo convívio em sociedade – da agressividade e violência. Para Collares, o sensacionalismo supre essa vontade. “A própria sociedade sabe que em alguns momentos é preciso ter válvula de escape. Esse tipo de cobertura midiática promove uma satisfação simbólica dos instintos”, elucida.
Para Martins, a cobertura que explora as emoções humanas funciona como uma catarse. “A pessoa tem raiva do governo federal, do chefe, do vizinho e não pode fazer nada. A partir do momento que vê aquela violência, você coloca toda essa energia e essa raiva naquela situação”. O número de pessoas em frente ao fórum, no caso Nardoni, segundo ele, é um exemplo disso. “Pessoas que não tinham nada a ver com o caso ou com a família foram lá e bradavam por justiça”.
A solução não é o fim da imprensa imediatista ou popularesca, acredita Collares, mas uma busca e cobrança pela diversidade cada vez maior dos meios de comunicação. “Nós não devemos pregar o fim desse tipo de mídia, que faz parte, é importante. O que precisamos, com certeza, é uma visão mais ampliada sobre os fatos. E isso só será possível quando tivermos várias fontes diferentes de informação”, conclui Collares.


Fonte: boletim virtual da UFRJ. 30/03/2010. Texto de Carolina Mazzi.