sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Reflexões sobre o “jornalismo participativo”

Não é, sem efeito, que Pierre Nora classifica o jornalista como o “novo historiador do cotidiano”. O poder de registrar, editar, rotular e veicular os acontecimentos através dos suportes midiáticos inerentes à indústria cultural fez com que esse profissional adquirisse novo status. Não é um “contador” de estórias, um historiador ou algo parecido; assume, o papel de historiografista. Embora não seja protagonista dos fatos que expõe, a angulação escolhida já o faz detentor de um certo poder. E o que não dizer do fascínio exercido na audiência? Edgar Morin nos forneceu bases conceituais suficientes a fim de apreendermos o modus operandi na criação das celebridades...

Mas creditar ao público e no pretenso jornalismo participativo a solução para uma historiografia com mais facetas é, não apenas ingênuo, mas perigoso. Vamos, contudo, tratar de diferenciar jornalismo comunitário de jornalismo participativo. O primeiro é plural por natureza, possibilita discutir o microcosmos social em pautas que não teriam lugar na grande imprensa; já o segundo abre espaço para o cidadão postar conteúdo, seja de áudio, imagem, texto etc. Não queremos restringir a interatividade, mas a colaboração deve se dar em canais próprios, como blogs por exemplo, como também em áreas bem definidas – uma coluna, uma seção, enfim. Relativizar o papel do profissional de imprensa substituindo-o por leigos (embora bem-intencionados, não possuem formação específica para a práxis), é atentar contra o papel do jornal – que, por sua vez, também está distante do que é praticado pelas grandes corporações midiáticas.

Da mesma forma que é ruim um viés hegemônico, por outro lado uma pluralidade de versões não implica no aperfeiçoamento do senso crítico do receptor. Mais não é mais: a equação pode ser negativa. Pode significar conteúdo contraditório, parco, comprometido ou até mesmo falso. A questão é dosar quantidade com conteúdo e responsabilidade social.

Há espaços editoriais diversos: o editorial, a crônica, o conto, as colunas analíticas ... a reportagem, como se deveria saber, não esgota os gêneros jornalísticos. E dentre eles, há os que devem ser de estrita competência do jornalista e outros afeitos às mais variadas contribuições. Viva o jornalismo cívico. Viva o diploma para exercício profissional.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Memória do Jornalismo

Quem aprecia temas relacionados à História do Jornalismo não deve perder os três primeiros volumes da série “Imprensa Brasileira – Personagens que fizeram história”, organizado pelo ilustre e competente professor José Marques de Melo.
A coleção, editada pela Universidade Metodista, foi rodada na gráfica da Imprensa Oficial. Para se ter idéia, há perfis biográficos de nomes como Frei Caneca, Alceu Amoroso Lima, Roberto Marinho, Aparício Torelli, Pompeu de Souza, Vladimir Herzog, Rui Barbosa, Assis Chateaubriand, entre muitos outros.
Tive a honra de ser o autor do perfil sobre Roberto Marinho, uma biografia para lá de “não autorizada”. Na celebração dos duzentos anos de imprensa no Brasil, nada melhor do que resgatar as versões, nem sempre compatíveis com o que os barões midiáticos querem veicular, da história pessoal. A memória da imprensa brasileira deve ser escrita, também – e, sobretudo – observando-se as linhas paralelas...

sábado, 1 de novembro de 2008

Twitter como “nova mídia” comunitária*



*Prof. Dr. Gabriel Collares Barbosa
ECO/UFRJ

Versão resumida. Em breve link para texto completo.

Associações de moradores, sindicatos, organizações, enfim, deveriam apostar cada vez mais na rede midiática social. A partir do diálogo estabelecido com os internautas, é possível antecipar ações, conhecer tendências, prover soluções... o Twitter, por exemplo, pode funcionar como um termômetro, ou melhor, um grande banco de dados para respaldar as políticas sociais. Pode ser acessado de um desktop tradicional, notebook, ou celular. Até mesmo conexão discada não é empecilho uma vez que a página carrega rapidamente.

O presidenciável Barack Obama, por exemplo, tem mais de cem mil seguidores nos Estados Unidos e é, através desse canal, que se costuma convocar simpatizantes e debater temas relevantes para a campanha. Grandes marcas de informação, como o New York Times, a BBC News ou o brasileiro G1, postam notícias naquele endereço. O fato é que o Twitter pode também funcionar como uma espécie de RSS[1]. Usuários podem mandar mensagens com links de seus blogs ou de sites que consideram interessantes e acabamos clicando para conferir as dicas que, em sua grande maioria, valem à pena.

Pequeno manual de redação

O twitter, programa de troca de impressões de mundo instantâneo, se populariza a tal ponto de os usuários proporem uma curiosa situação: criou-se um verbo no infinitivo, o twittar, como o ato de se expressar nesse novo “dialeto”. Empregamos o termo "dialeto" em sentido mais amplo, ou seja, o de considerar-se dialeto como sendo qualquer variedade lingüística - quer de natureza geográfica, quer de cunho social - que constitua um subsistema singular, unitário. Isso significa que se pode denominar de "dialetos" tanto a variedade falada numa região quanto as usadas por cada um dos segmentos que constituem a população que ali vive - desde que se determinem os traços que as particularizam, isto é, as normas que as caracterizam.

Sabe-se que há uma limitação de 140 caracteres, ou seja, o redator dispõe de aproximadamente duas linhas para emitir a informação. Caso ultrapasse, ele se vê obrigado a editar o texto a fim de que os toques sejam observados. Comentários à parte, melhor exercício para burilar a capacidade de síntese, impossível...

Vamos às proposições que formulamos a partir da observação empírica do twitter:

a) devemos emitir mensagens curtas, sintéticas, objetivas, enfim, nos valendo do conceito jornalístico de “economia combinatória”: o máximo de informação no menos espaço possível.

b) o uso de símbolos universais podem ser de grande valia já que os significados são notórios.

c) Há ainda a possibilidade de se abreviar palavras, suprimir artigos, preposições, pronomes de tratamento... até mesmo a pontuação é passível de corte, num estilo textual que, entre outros aspectos, consagrou o escritor e nobel de literatura, José Saramago[2].

d) Por fim, é crescente o uso dos 140 caracteres, ou menos, como uma chamada de noticiário, cujo texto na íntegra pode ser acessado a partir do link fornecido.

e) Não podemos menosprezar ainda os que optam por icebergs, ou seja, inicia-se o texto dentro do limite e um link nos remete para a continuação deste em outro site.

Note que composições dos quatro itens elencados acima também são possíveis, onde até mesmo a utilização de palavras de outras línguas, como a inglesa ou espanhola, são lançados à mão, na redação em Português, quando sinônimos na nossa língua pátria parecem não ser curtos o suficiente.

O Twitter já se configura como uma “nova mídia”, o que não inviabiliza a aposta, de forma integrada, de suportes paralelos. Uma sugestão para o terceiro setor é, além de twittar, criar blogs e disponibilizar, além do texto e imagens, podcasts para o internauta ouvir quando e como quiser.

[1] RSS (Really Simple Syndication) -, o assinante fica sabendo quando uma informação de interesse é veiculada.
[2] José Saramago busca reproduzir no suporte de papel um “discurso oralizado”, onde não se notam maiúsculas, abertura de parágrafos ou sinais de pontuação.