quarta-feira, 20 de julho de 2011

Publicidade em capa de jornal

Uma das páginas mais importantes de qualquer jornal impresso é a primeira. Aliás, há editor de primeira página bem como diagramadores exclusivos para ela. É sabido que, pela sua relevância, é também a última a fechar... 
Tal qual as páginas opinativas, onde estão os artigos e editorial, não leva publicidade alguma - salvo institucional. São as chamadas "páginas brancas". O Globo e outros jornalões tem rompido com esta tradição jornalística. Na edição de 20/07/11, por exemplo, há anúncio de duas colunas da montadora Hyundai. 
Desta forma, sempre salutar (re)discutir limites entre jornalismo e publicidade. Sem maniqueísmos. O que dizer das sobrecapas que por vezes envolvem todo o jornal, com anúncios os mais diversos? O que dizer também das promoções de selinhos que dão jogo de panelas ao leitor que, fielmente, comprar 30 e tantas edições.... Como empresas jornalísticas prescidem da valorização da própria marca para serem vistas como prestadoras de serviço, com credibilidade e indutoras do senso crítico (pelo menos, em tese essas são algumas das prerrogativas do Papel do Jornal), explicitar a relação umbilical com o mercado é um tanto quanto complicado. Mas essencial. Todos sabemos que a publicidade banca, em grande proporção, as empresas jornalísticas. Também não é segredo que o gate-keeping e a auto-censura dificultam a publicação de fatos desabonadores aos patrocinadores. 
Agora, existem espaços pre-determinados para os anúncios. O que a Revista Caras faz, por exemplo, já há algum tempo, induz e confunde o leitor e explicita uma posição de subserviência. Nas edições, as matérias emolduram os anúncios. E o pior é que eles não trazem qualquer relação na narrativa com o que é veiculado... Cabe perguntar:  "vendem-se" notícias ou publicidade? A ênfase, então, recai sobre os produtos, agora travestidos de notícias. Ah, mas notícia também é um produto, dirão alguns... "Tudo bem" que os jornais "gratuitos", como Metro, estão aí para comprovar isso. Mas essa é uma outra história. 
Sobre  a mercantilização da notícia, Cremilda Medina tem um livro ótimo, intitulado "Notícia, um produto à venda". Há, portanto, limites à publicidade em espaço redacional? Presenciamos uma inversão do que deveria ser a "lanterna de Diógenes" da mídia: prioridade ao interesse público e informação ao cidadão. O mais intrigante é que a essa inversão corresponde um acirramento da disputa "ideológica" sobre os papéis da mídia e da publicidade na democracia. Os principais atores e interesses envolvidos, sobretudo empresários de mídia e agências de publicidade, reafirmam seu discurso e, como sempre, denunciam qualquer tentativa de regular o setor.
Epígrafe deste post - Pierre Bourdieu, em "A influência do jornalismo":
"Desvelar as restrições ocultas impostas aos jornalistas e que eles impõem por sua vez sobre todos os produtores culturais não é – será preciso dizê-lo? – denunciar responsáveis, apontar culpados. É tentar oferecer a uns e outros uma possibilidade de se libertar, pela tomada de consciência, da influência desses mecanismos e propor, talvez, o programa de uma ação combinada entre os artistas, os escritores, os cientistas e os jornalistas, detentores do (quase) monopólio dos instrumentos de difusão. Somente tal colaboração permitiria trabalhar eficazmente na divulgação das contribuições mais universais da pesquisa e também, em parte, na universalização prática das condições de acesso ao universal."

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